29/07/2009
Tenho acompanhado alguns artigos recentes, publicados nos principais jornais do país, que falam sobre a interferência pessoal do Ministro da Cultura Juca Ferreira, em algumas decisões do CNIC (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura ). Juca Ferreira, interferiu para que artistas como Maria Bethânia e, mais recentemente Caetano Veloso, pudessem receber os benefícios da Lei Rouanet.
Para Caetano, foram destinados R$ 1,7(Milhão) do dinheiro público para a produção do Show "Zii e Zie". É dinheiro público, por que a empresa "deixa de recolher o imposto para o governo" para, em troca, aplicar este dinheiro na cultura, através de projetos e shows. A Lei Rouanet trata a questão de incentivos fiscais para estimular empresas e pessoas a investirem no financiamento de projetos culturais aprovados pelo MinC.
O CNIC, que analisa os projetos aspirantes ao benefício da Lei Rouanet, decidiu que o "Tour Caetano Veloso", no valor de quase $ 2 Milhões, não precisava de incentivo por ser comercialmente viável.
Paula Lavigne (ex-mulher e empresária de Caetano), ligou para o Ministro Juca Ferreira, para saber qual o critério utilizado para o projeto de Caetano, e que ela não percebia tinha sido o mesmo usado para outras pessoas(artistas), a exemplo de Ivete Sangalo, que teve projetos aprovados e que é uma das artistas brasileiras mais bem sucedidas comercialmente, de todos os tempos, e assim não faria sentido esta discriminação agora.
Numa entrevista, O Ministro Juca Ferreira, declarou que a Lei Rouanet não tem nenhum critério estabelecendo que os artistas "bem-sucedidos", não possam ter projetos aprovados. E, como condição para o uso do benefício, para os produtores do Show de Caetano Veloso, o Ministério exigiu a redução do preço dos ingressos, para R$40,00 e R$20,00 (Inteiro e meia entrada). Sem o benefício da Lei Rouanet, o tour de Caetano cobra entradas de até $200 reais.
O que devemos pensar e refletir é: Se este dinheiro-benefício pode ser usado por artistas já famosos e com condições de bancarem seus próprios projetos. O artista já consagrado e famoso pode "meter a mão no bolso" e investir, uma vez que os shows são viáveis comercialmente , uma vez que o ROI (retorno sobre investimento) é certo para o artista e para seus investidores.
Me parece que esta situação se assemelha à questão do uso dos SESCs, onde muitos artistas já consagrados e estrangeiros estão fazendo shows nestes espaços. O artista que está começando ou que não é comercialmente viável, e que tenha um trabalho artístico e diferente, depende destes espaços e das ações e leis de incentivo. Estes espaços contam com uma estrutura de som, luz, técnicos, palco, camarim, divulgação e até um cachê que ajuda a pagar as pessoas envolvidas no espetáculo.
Para o funcionário do SESC, responsável pela programação dos shows, fica a difícil missão de não cair na tentação de só ter os grandes artistas na agenda da casa. O "bom senso" e equilíbrio da programação acaba se tornando uma tarefa muito difícil.
Não tenho nada contra o Caetano, mas usando ele como exemplo, não dá pra um artista "pequeno e pouco conhecido" do grande público, competir com "Caetanos" da vida.
No próximo artigo, ainda darei seqüência a este assunto.